Acidentes nas crianças

Tenho que admitir que quando iniciei a minha atividade profissional fiquei muito surpreendida pelo facto de os acidentes nas crianças serem um dos principais motivos de admissão num serviço de urgência e ainda se afigurarem como a principal causa de morte até aos 18 anos!

Sei que não podemos colocar os nossos filhos dentro de uma bolha, mas desde que sou mãe, que todas as experiências que vivencio no contexto profissional só fazem aumentar cada vez mais a minha preocupação.
Infelizmente, já me deparei-me com algumas situações graves de acidentes e, muitas vezes, dei comigo a pensar: “Podia ser eu esta mãe”!

Porque tal como muitas mães, eu também não me tinha lembrado de reduzir a temperatura máxima do meu esquentador… Eu também não tinha o hábito de rodar para o lado da água fria as torneiras acessíveis… Os meus filhos também facilmente conseguiam chegar ao bidé e ligar a água sem eu me aperceber…

E sabem que bastam 3 segundos em contacto com água a 60ºC para provocar uma queimadura de 3º grau numa criança? E sabem que além dos tratamentos dolorosos e prolongados, que muitas vezes, podem implicar cirurgia, as sequelas são para a vida?

Viver e crescer implica sempre alguns riscos e, inevitavelmente não vamos conseguir proteger sempre, nem para sempre, os nossos filhos, ou impedir que eles sofram em algum momento do seu percurso de vida.

É impossível prever o comportamento de uma criança e, só quem é pai sabe, que basta um segundo de distração para algo acontecer. Mas o que quero aqui realçar, é que os acidentes nas crianças, na sua grande maioria, acontecem em contexto doméstico e são evitáveis! Por isso, se estão ao nosso alcance atitudes e comportamentos que podemos ter e que podem ajudar a diminuir o risco, porque não colocar tudo em prática?

Sei que a maternidade pode ser avassaladora. É toda ela uma nova experiência num mundo de sentimentos e preocupações por descobrir, durante as 24 horas dos 7 dias da semana. O papel de mãe não conhece folgas nem feriados!

Não existem mães perfeitas, mas todos os dias podemos ir aprendendo e melhorando. Uma mãe nunca caminha sozinha. Todos os dias há outras mães a passar pelas mesmas dúvidas e angústias. É por isso que é tão importante para mim esta partilha, para que juntas possamos tornar o nosso percurso menos sinuoso.

Proporcionarmos um ambiente seguro para o nosso bebé é o primeiro passo para prevenir acidentes. E isso começa, por exemplo, na seleção de brinquedos, do mobiliário e da cadeira auto. Além disso, são sempre necessárias pequenas mudanças para adaptar a nossa casa e alguns ajustes nos nossos comportamentos do dia a dia, que vamos ter que ir adaptando à idade dos nossos filhos.

Escrevi o Guia Prático de Segurança Infantil, para partilhar a minha experiência profissional e pessoal com todas as mães que se preocupam com os seus filhos. É uma tentativa de reunir, apenas num documento digital, os principais cuidados que devemos ter na aquisição de alguma mobília e brinquedos, bem como o que podemos fazer para tornar a nossa casa segura, de forma a prevenir acidentes como quedas, afogamentos, queimaduras, intoxicações, asfixia, ingestão de corpos estranhos, atropelamentos, engasgamento e choques elétricos.

Infelizmente, os acidentes não acontecem só aos outros, por isso, além da prevenção, também é importante sabermos como atuar em caso de acidente, estar preparados com uma mala de primeiros socorros completa e ter os números de emergência sempre à mão.

Lembrem-se que uma criança não é capaz de reconhecer o perigo e tende a imitar o comportamento dos adultos. Por isso, é da nossa responsabilidade, além de supervisionar, criar um ambiente seguro no qual os nossos filhos possam explorar e desenvolver as suas capacidades, sem que isso os coloque numa situação de perigo.

Sei que é uma grande responsabilidade, mas como pais, prevenir os acidentes nas crianças está nas nossas mãos!