Quando os primeiros casais amigos começaram a ter filhos fiquei bastante surpreendida com o nível de planeamento de alguns. Houve quem escolhesse o mês em que queria que o bebé nascesse, já a pensar no calendário escolar, e até quem conseguisse escolher o sexo, selecionando o melhor dia para ter relações sexuais, antes ou pós ovulação. E, a maioria, até ficou surpreendido com a rapidez de um teste positivo…
Quando as coisas são postas desta forma tudo parece tão fácil…. Aparentemente, basta parar o método anticoncecional, ter relações no dia certo e, no mês seguinte, já está! Mas, infelizmente, aprendi que a realidade nem sempre é assim.
Nas 4 vezes que estive grávida a única coisa que consegui planear foi a data em que deixei de tomar a pílula! Decidir que queremos ter um filho e deixar os métodos contracetivos acho que é a única decisão que está realmente sobre o nosso domínio. Se tudo o resto correr como planeamos acho que é pura sorte.
Passamos anos com medo de uma gravidez não planeada que possa interferir com todos os planos que idealizamos para o futuro que nem pomos a hipótese de que, quando finalmente o desejarmos e acharmos que é o momento ideal, pode não ser assim tão fácil sermos pais.
Por mais que as diretrizes digam que só depois de 1 ano a tentar é que podemos pensar em patologia e ser encaminhados para uma consulta de infertilidade, quando desejamos muito ser pais, cada mês que passa não deixa de ser uma desilusão.
De início, a parte do “tentar” pode ser muito agradável, mas consoante os meses se vão sucedendo, admito que nem à quarta vez, e já com um diagnóstico médico e tratamento instituído, deixei de me sentir ansiosa e com medo de não conseguir. Não era por já ter 3 filhos que o quarto era menos desejado ou amado.
Enquanto médica sei que, infelizmente, já não falando em situações graves de infertilidade, casos como o meu ou abortos espontâneos, sobretudo no primeiro trimestre, são muito frequentes, mas uma coisa é saber a teoria e outra é viver essa realidade.
Como em tudo na vida, na parentalidade, nem sempre conseguimos planear tudo ao mínimo pormenor.
No meu círculo de amigos e familiares tenho quem tenha passado por todas estas situações. A única razão pela qual o primeiro cenário parece uma realidade mais frequente é porque ninguém quer partilhar uma má experiência. Ninguém vai gritar ao mundo que perdeu um bebé. Ninguém vai responder que está há meses a tentar, que está a fazer medicação ou até a ser acompanhado na consulta de infertilidade, quando indelicadamente (mas sem maldade, como eu fazia) perguntamos a um casal amigo: então esse bebé está para quando?
Depois de um final feliz, como o meu, é que as pessoas se podem sentir à vontade para partilhar as suas histórias. E, pela minha realidade e dos que me rodeiam, afinal parece que só para alguns é que é assim tão fácil…