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Vale tudo ou quase…

Quando o meu filho mais velho nasceu senti que algumas das minhas expectativas em relação à maternidade foram defraudadas. Montei e decorei um quarto digno de um catálogo de revista onde nem um cadeirão de baloiço faltou.

Sempre sonhei em ser mãe e só me imaginava sentada naquele quarto, ao fim de tarde, a ver o por do sol pela janela e o meu filho nos braços. Tal e qual como vemos nos filmes, mas a vida real foi bem diferente.

O meu filho chorava dia e noite. Era indiferente estar ao colo, a mamar ou na minha companhia. Muitas vezes questionei o meu papel de mãe. Será que não tinha sido a altura certa? Será que não tinha sido talhada para ser mãe? O que estaria eu a fazer de mal?

Sobretudo quando somos pais pela primeira vez, é normal nas primeiras semanas, recebermos visitas de vários familiares e amigos que vêm conhecer o novo membro e trazer uma lembrança.

Julgo que o normal é virem visitar os pais, porque normalmente os recém-nascidos passam a maioria do seu dia a dormir, e acho que foi por isso que todos ficavam impressionados pelo meu filho estar sempre acordado e a chorar.

Todas as visitas tentavam a sua sorte. Todos queriam pegar no bebé porque tinham a técnica perfeita para o acalmar e não estavam a passar para ele a ansiedade a que a mãe estava sujeita pelo cansaço. Mas ao fim de 5 minutos a frustração nos seus rostos era visível, e o meu filho lá voltava para os meus braços ainda mais agitado que antes.

De início as pessoas não querem comentar nada para não afetar a mãe, que se acredita estar simplesmente demasiada cansada e sob uma chuva de hormonas propicia à depressão, mas logo todos têm uma teoria para dar e uma solução milagrosa para sugerir. E se, inicialmente, estava bastante cética, com o passar das semanas valeu tudo ou quase…

Claro que a primeira opção foi consultar o pediatra, mas acho que as queixas de uma mãe de primeira viagem são sempre pouco valorizadas. O diagnóstico foi um mixe de ansiedade da mãe com cólicas do bebé. Para esta última condição, trouxe uma lista de produtos disponíveis no mercado, que logo à partida o médico informou que seriam pouco eficazes.  Restava aguardar que os meses passassem e que o problema se resolvesse. “Há bebés que são mais difíceis”, disse ele.

Não foram notícias muito otimistas, mas lá fui eu à farmácia. Trouxe uma lista de produtos bem mais extensa do que aquela prescrita, mas como já disse valia tudo ou quase…

Até aquelas amigas que, pela distância, só podiam falar comigo pelo telefone se apercebiam do meu desespero. Inclusive enviaram-me medicamentos para as cólicas cuja venda ainda não estava autorizada em Portugal!

Nada funcionou, mas os conselhos iam-se acumulando e a minha mente ia aceitando novas teorias e soluções.

A minha segunda opção foram as medicinas alternativas e pedi conselhos a um amigo licenciado em medicina tradicional chinesa que veio cá a casa. Ensinou-me algumas técnicas de massagem e de relaxamento, mas o meu filho continuou a passar parte do seu tempo a chorar.

Sendo cólicas, também não faltaram conselhos sob a amamentação e o que eu poderia ou não comer. Não deveria comer alimentos crus, não podia beber leite, não podia comer alguns legumes e frutas, não podia comer gorduras ou açucares e tinha que evitar os condimentos e a cafeína. Não era fácil preparar as refeições cá em casa!

Num bebé que consome tantas calorias a chorar e que não passa do percentil 3, claro que aumentar a produção de leite também era muito importante e, portanto, á lista de restrições tive que acrescentar uma lista de alimentos obrigatórios como a cerveja preta e as peles de bacalhau. Até os suplementos com leites artificiais e hidrolisados, foram uma opção. Admito que não valeu tudo, mas quase…

Tive familiares que acreditavam que era apenas uma situação de mau olhado ou de algo parecido com uma possessão por pessoas de família já falecidas. Portanto, aceitei que o meu filho fosse defumado e coloquei uma tesoura e um raminho das ditas “ervas de proteção”, debaixo do berço. Eu sei, que mórbido, mas como já referi valeu tudo ou quase…

O baptismo também me foi apresentado como uma solução milagrosa. O meu filho nasceu em abril e eu já tinha o casamento e o batizado marcado para agosto desse ano. Finalmente via uma luz ao fundo do túnel, mas a data passou e nada mudou.

Só após 8 meses a solução definitiva chegou e pude viver a maternidade de forma plena. O meu filho foi diagnosticado com doença de refluxo gastro esofágico e depois da medicação e a alimentação ajustada, parecia que me tinham trocado o bebé.

Infelizmente sinto que não vivi, mas apenas sobrevivi aos primeiros meses do meu filho. Valeu tudo ou quase, mas o que importa é que ele está bem…

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