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Família e barulho

Família e barulho

Para mim que venho de uma família com mais dois irmãos, família e barulho parece que são duas palavras que nunca vou conseguir dissociar.

Se há memória que guardo da minha infância é do barulho que fazíamos enquanto brincávamos todos e da minha mãe aos berros connosco: Para! Estejam quietos! Não se peguem! Portem-se bem! Olhem que vos vou por de castigo! Cuidado, olha que te vais magoar!

Recordo-me de pensar: os vizinhos devem de achar que isto é uma casa de tolos! Quando for mãe, espero não ser assim!

Pois bem, para quem ainda não tem filhos, vou já avisar que o silêncio em casa acaba quando eles nascem. Pelo menos por aqui, barulho e berros fazem parte do nosso dia-a-dia. Até acho que muitas vezes ultrapassamos o limite legal de decibéis.

Juntando a energia incansável dos meus filhos, os horários para cumprir, a nossa exigência, o cansaço ao fim do dia e um elevado número de pessoas no mesmo espaço acho que, pelo menos, um destes resultados é inevitável: em algum momento ou a minha voz se vai elevar demasiado ou o barulho do conjunto de vozes é tão alto que torna impossível qualquer tipo de conversa em tom normal.

No meu caso, seja para dar uma ordem que apesar de repetida várias vezes, parece que no tom normal não surte qualquer efeito, ou mesmo para reprimir um comportamento que considero demasiado grave ou perigoso ou simplesmente para me fazer ouvir, lá se vai um berro e prontos: lá se foi a minha compostura.

Porém, para evitar que questionem a minha sanidade ou as minhas capacidades enquanto mãe, estabeleci uma regra: tentar limitar esses momentos a quando estamos sozinhos. A verdade é que posso ser um bocadinho louca, mas ninguém precisa de saber!

Sinto muito orgulho quando me dizem que os meus filhos se portam muito bem. As pessoas perguntam-me: Como é que consegues com 4? Claro que agradeço toda babada, mas, nesses momentos eu só penso: Ai se soubesses como é lá em casa!

No jantar semanal de família somos oito adultos e oito crianças na mesma divisão de uma casa pequena. Surpreende-me como é que, seja durante a hora da refeição ou durante o espetáculo protagonizado pelos miúdos no fim (com direito a bilhetes e tudo) como é que os vizinhos nunca chamaram a PJ.

Sei que há quem nos possa achar uma família de loucos, mas eu acho que, na maioria das situações, é uma loucura saudável. Porque com crianças é simplesmente impossível mantermos sempre a compostura ou exigir-lhes que se comportem como adultos.

Eu até acho que, por defeito, quando nascem, as crianças vêm formatadas com o botão do volume no máximo e daí que família e barulho não é algo possível de dissociar!

Já tentaram jogar às caçadinhas com uma criança pequena? As minhas filhas não conseguem parar de rir e dão aqueles berros estridentes quando estão na iminência de serem apanhadas. Nem sempre é agradável, mas Isso é portarem-se mal? Quando estão à mesa com os primos e estão todos a brincar e a falar alto. Isso é falta de educação?

É óbvio que temos de ensinar os limites, mas, na minha opinião, numa casa feliz e saudável, família e barulho fazem parte do pacote. Não é possível uma mãe, sobretudo uma mãe de 4, não berrar de vez em quando nem que uma casa com crianças seja sempre calma e silenciosa.

A parentalidade é feita de desafios. Acho que controlar o nível de decibéis em casa, ou fora dela, é só mais um (e olhem que não é dos mais fáceis)!

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