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Maternidade a tempo inteiro

Luxos de Mãe

Não era este o assunto sobre o qual pensava escrever, mas a vida dá muitas voltas e sinto que tinha de partilhar o que vivenciei esta semana.

Enquanto mãe de 4 o meu dia a dia é uma correria, cheio de gargalhadas e brincadeiras, mas também de rotinas, horários e, claro, algumas chatices pelo meio. Sei que o tempo livre não é o mesmo de quando era solteira, mas, com uma boa gestão, continuo a ter momentos livres só para mim e para fazer coisas que gosto.

Contudo, esta semana recebi uma notícia em relação a um dos meus filhos que, enquanto médica, sei que poderia indicar uma doença grave. Aí precisei de tempo para mim que não pude tirar. Senti tanto medo, senti uma angústia e uma ansiedade tão grandes que mal conseguia respirar.

Sei que poderia apenas ser um sinal de doença ligeira, mas perdi completamente a objetividade a que sou obrigada enquanto profissional e senti-me, apenas uma mãe impotente. Infelizmente, nem tudo está sob o nosso domínio e eu senti que o que se estava a passar fugia totalmente ao meu controlo.

Nesse momento queria ter podido parar, queria ter podido chorar, queria ter podido dar dois berros e aliviar tudo o que tinha dentro de mim, mas apercebi-me que, enquanto mãe, isso era um luxo ao qual não me poderia dar.

Naquele instante senti uma dualidade de sentimentos. Por um lado, só queria abraçar os meus filhos, mas por outro lado só queria fugir para bem longe para poder desabafar e descarregar, e não o fazer sobre eles ou à frente deles.

Estava rodeada de 4 crianças que esperam que a mãe seja sempre o seu pilar, que a mãe esteja sempre feliz, que a mãe trate deles. Além de não os querer preocupar também não lhes queria mostrar o lado mais frágil da mãe.

Não sei se já viram, mas fez-me lembrar o filme A Vida é Bela. Quando o vi pela primeira vez ainda não tinha filhos, por isso fiquei muito surpreendida com a capacidade daquele pai que, independentemente das circunstâncias, de todos os seus medos e o que já sabia que lhe ia acontecer, sempre conseguiu por o bem-estar do seu filho em primeiro lugar.

É obvio que não estou a comparar a situação que vivi com o que se passou no holocausto, estou apenas a dizer que esta semana percebi melhor a essência do filme.

Pela primeira vez, gostava de ter podido deixar de ser mãe por breves minutos. Só para me poder dar ao luxo de cair. Para me poder dar ao luxo de parar, organizar os sentimentos, as ideias e voltar a levantar-me para gerir e enfrentar a situação.

Mas ser mãe é para vida, não há pausas. Há coisas que não nos podemos dar ao luxo de fazer ou de ter. Não podemos fugir nem parar. A cada adversidade temos que nos reinventar. Eu sei que no fundo somos apenas humanos, mas também sei que sermos pais dá-nos a capacidade de sermos super-heróis e conseguimos tudo…

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