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Ode aos meus pais

Ode aos meus pais

A minha infância é repleta de boas recordações o que hoje me impulsiona a escrever esta ode aos meus pais.

Infelizmente a nossa memória é limitada e não existe seletividade no que vai apagando, por isso, há muito de que não me recordo, mas permanecem comigo os sentimentos e as emoções dessa altura.

Não sou de uma família abastada financeiramente. Lembro-me nas nossas limitações a esse nível. Mas sou de uma família abastada de união e alegria. Os meus irmãos são os meus melhores amigos e os meus pais, à sua maneira, as minhas figuras de referência.

O meu pai, o meu super-herói, capaz de ir trabalhar todas as noites com um sorriso, fizesse frio ou chuva, e na altura sem telemóveis para comunicarmos. Capaz de ir para o segundo emprego de manhã e mesmo, com poucas horas de sono por dia, ter paciência para nos levar todos os fins de tarde à praia para jogarmos à bola, ou irmos mais cedo buscar a minha mãe ao emprego, só para ficarmos a andar de bicicleta ou patins no parque de estacionamento de um hipermercado.

Um homem capaz de transformar uma carrinha de 9 lugares, num restaurante chique ou num autêntico quarto de hotel e um fim de semana no campo, em autênticas férias de resort.

A minha mãe sempre foi muito prática e corajosa. Além de ter tido 3 filhos sem epidural, criou-nos, praticamente, sozinha nos primeiros anos (a ajuda do meu pai enquanto eramos pequenos não foi muita). Nunca se inibia de fazer nada só porque não tínhamos carro! Lembro-me, eramos nós muito pequenos, de nos levar a todos numa camioneta para irmos a Lisboa visitar o meu pai, que estava lá a tirar um curso.

Durante o verão, fazia as trouxas, e de camioneta lá íamos todos passar o dia à praia. Lembro-me que estava sempre presente e que, independentemente dos nossos problemas, ela tinha sempre uma solução.

Tinha 10 anos quando a minha mãe começou a trabalhar. Foi um choque e uma aprendizagem. Tive, nesse momento, de assumir responsabilidades, que hoje em dia, na nossa sociedade, são impensáveis para uma criança dessa idade.

Tive de aprender a cozinhar, a arrumar a cozinha e assumir a responsabilidade de tomar conta dos meus irmãos e ajudar o meu pai. Na altura pareceu-me muito, mas hoje sei que tudo isso fez de mim a pessoa que sou hoje.

Nessa altura, não havia metade do que há agora. A minha mãe ainda utilizou a fraldas de pano, que tinha que ir lavar ao tanque. Não havia máquinas de lavar ou de secar a roupa. Pai e mãe não tinham um carro cada um para se deslocarem, fosse para irmos passear, levar-nos ao futebol, ou simplesmente ao serviço de urgência ou à farmácia.

Não havia telemóveis nem tudo estava à distância de um clique. Os vizinhos eram o grande apoio quando hoje em dia nem conhecemos metade dos nossos.

Hoje, dou comigo muitas vezes a perguntar, como é que os meus pais faziam? Como é que podiam trabalhar tanto, a vida ser tão difícil e mesmo assim nos terem proporcionado tão boas memórias e incutido tão bons princípios.

Atualmente a vida é uma corrida. Corremos para o trabalho, depois corremos para casa, corremos para ir buscar os filhos à escola, corremos para fazer o jantar, corremos para ir às compras. É difícil mantermo-nos atualizados num mundo em constante mudança e, se não corrermos, parece que fica sempre alguma coisa para trás.

A sociedade é tão exigente que nos esquecemos de parar e simplesmente viver. Às vezes queremos fazer tudo tão perfeito que nos esquecemos do essencial. Tempo, tempo com qualidade para nós e para os nossos filhos, para criarmos memórias felizes como as que eu guardo.

Com 4 filhos conheço os desafios da parentalidade, por isso, mãe e pai, hoje ainda vos admiro, respeito e amo mais. Pelas pessoas que são, pela importância que tiveram na pessoa que sou hoje e pela família que construíram, com muito menos recursos do que aqueles que eu tenho hoje.

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